quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

R E T R O S P E C T I V A
.
.
Existem aromas, sons e cores que me fazem
.
voltar no tempo
.
e viver sensações sentidas no passado como se o tempo caminhasse de costas.

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

domingo, 27 de dezembro de 2009

Um mundo embaixo do chapéu


a história não + o texto sim.

Ele é de fato um texto desatualizado.

(parte da minha prova de redação II)


Sábado, 9 de outubro de 2009, entrei no mercado de são José atrás de um perfilado perfeito. Queria alguém que chamasse muita atenção. Uma, duas, três voltas... Passava eu pela segunda vez pela viela do lado direito de uma entrada paralela que para muitos é a principal do mercado. Encontrei um homem;

,É o senhor mesmo quem faz essas caixinhas?

Recebi um sim seco que me fez desistir de escolhê-lo. Outra volta e outro não me fez parar novamente na viela. Cruzei meu olhar com um senhor de camisa quadriculada, bonia e percata de couro branca que estava de pé em seu Box de cerca de um metro quadrado. Não pensei nos conceitos de como se abordar um perfilado e fui direto ao ponto.

,Posso fazer uma entrevista com o senhor?

,É, num tô fazendo nada.

E assim ouvi pela primeira vez a voz de contador de história do meu perfilado.
Ele sentou na cadeira em frente a seu Box de chapéus e começou a viajar em sua história.

O pernambucano Sebastião Viera de Lima nasceu no Engenho, de cana de açúcar, Vage Grande, Nazaré da Mata, no dia 13 de outubro de 1931. Seus pais, Maria José Viera e Augusto Sebastião Viera, devido a falta de televisão (brincadeira do entrevistado) deram a Seu Sebastião 13 irmãos. Como a família era grande o senhor Augusto começou a levar seus filhos muito cedo para trabalhar na lavoura de cana. Seu Sebastião começou com cinco anos arrancando as sapatas (pequenos pedaços de cana) da plantação.
Com dez anos e as mãos calejadas do trabalho pesado Sebastião fugiu de casa, foi viver no Recife. Como não conhecia ninguém para lhe dar abrigo o menino decidiu morar escondido em uma sorveteria, e conseguiu a proeza durante dois meses, até conhecer um vendedor de picolés que lhe conseguiu um emprego na Fábrica de calçados de Belém. A dona Joaninha,proprietária da fabrica lhe deu abrigo e durante um ano ensinou-lhe a fazer chileno de couro. O menino Sebastião ficou sob a proteção da dona Joaninha durante três anos.
Sebastião deixou o trabalho com calçados devido a aborrecimentos com Ritinha, filha de D. Joaninha, entretanto quando questionado a razão dos aborrecimentos, se eram por questões afetivas, ele desconversou e foi logo contando do seu novo emprego de vendedor de amendoim.

A proposta do trabalho foi do velho vendedor de amendoim, chocolate, picolé e outras guloseimas que era seu amigo. Sebastião contou sorrindo que ficava nas ruas gritando; “olha o amedoim, torradim...”, e em troca ganhava salário e moradia na casa do seu amigo.
Com 15 anos começou a estudar, trabalhava o dia todo e a noite fazia SENAI,estudou na instituição durante três, os únicos anos de estudo de sua vida. Chegou o tempo de se alistar e Sebastião conseguiu ficar na marinha de guerra. “Fui primeiro para o Rio de lá fui andar por ai pelo mundo”.

Do meu banquinho consegui ver seu Sebastião passar por toda costa brasileira, Portugal, Alemanha, França, Moçambique, todo sul da África, Japão em uma caminhada durou 23 anos. Novamente no Rio de janeiro o marinheiro já adoentado pediu baixa para ficar na marinha mecânica, onde bateu perna por, aproximadamente, mais sete anos.
Aposentou-se em 1979 e resolveu cuidar do “negocinho” que tinha no mercado de São José. Sebastião comprou um espaço no mercado em uma de suas férias ainda na década de 60.

“Ai eu vinha pra’qui, não tinha o que fazer, ai conheci o dono de uma barraca ai fora, na calçada do mercado, ai conversando com ele, ele aperriado, perguntou se eu queria comprar, ai disse compro. Ai ele disse o preço, eu tava com dinheiro ai disse agora. Ai comprei né”.

Enquanto estava no mar um de seus irmãos cuidava da barraca de miudezas. O produto oferecido só foi modificado quando o próprio Sebastião começou a administrar o negócio.
Em suas andanças pelo mundo o marinheiro montou uma vasta coleção de chapéus. Os variados estilos não eram fabricados no Recife, então o colecionador levou seus chapéus a uma costureira para fazer copias. A idéia deu certo, rendeu um bom dinheiro para o primeiro vendedor de chapéus do mercado São José. “Agora, conta saudoso, você passa o dia todinho aqui e num vende uma peça, naquela época não existia isso”.

Hoje quem fabrica a maior parte dos chapéus que estão pendurados em seu Box é sua segunda esposa, Maria das Neves Salles, a qual esta casado há 28 anos e tem três filhos, de seu primeiro casamento, com Severina, teve sete herdeiros.
Esse foi o único momento que senti uma fagulha de tristeza no senhor ao meu lado. Cinco dos filhos de sua primeira união não querem contato com o pai, porque deixou a mãe.

“Mas num deva certo mais não, adiantava insistir?”, justificou, com uma voz triste, o fim de 30 anos de união. Sebastião casou com Severina, quando tinha uns 22 anos e afirma que só durou muito tempo com ela porque vivia viajando.
Sebastião teve dois casamentos duradouros, o que o faz crer que é um bom marido e não era namorador. Bom marido, sim, entretanto não namorador é duvidoso. O senhor teve 10 homens e pergunta sorrindo, “É Deus não me castigou não, né?”, e Ele castigaria por quê? Hoje com 78 anos, 10 filhos e 20 netos Sebastião diz que a infelicidade agora que esta querendo a sua porta. Esta diabético e não pode trabalhar direito. "Tô só esperando a morte chegar”, enquanto isso Sebastião esbanja sorrisos a todos que se deixam viajar com ele nos mares de sua vida.